terça-feira, 18 de setembro de 2012

O pormenor e a floresta


Tempos difíceis, de incerteza, de sacrifício e de oportunistas que espreitam o momento mais indicado para derrubar a democracia. 


Durante anos denegriram as funções e o trabalho dos funcionários públicos, bombeiros, polícias, professores, médicos, enfermeiros, calceteiros, técnicos administrativos, magistrados, auxiliares dos serviços hospitalares, militares, serviços de limpeza e higiene pública, serviços de informação e de informações, ninguém escapou às adjectivações mais descabidas. Nos últimos anos reduziram salários e retiraram subsídios a todos os trabalhadores do Estado, das autarquias e das empresas públicas, perante o silêncio generalizado da maioria dos portugueses. Agora, as mesmas medidas, duras,  foram alargadas aos privados e a turba saiu à rua. Tocaram-lhes no bolso.
A redução da contribuição das empresas para a Taxa Social Única de 23 para 18 por cento feita à custa do aumento da mesma taxa aos trabalhadores em mais 7% é inaceitável. Como é inaceitável que reduzam a TSU aos empresários indiscriminadamente sem qualquer contrapartida social, sobretudo a empresas internacionais como a EDP, a GALP e tantas outras que vão encaixar muito dinheiro com a descida da TSU à custa do aumento da tributação sobre o trabalho.
A distribuição dos sacrifícios tem que ser progressiva. Aqueles que ganham mais têm de fazer um esforço maior. Para podermos, todos, acudir aos que estão desempregados e aos reformados e pensionistas que descontaram durante toda a sua vida. Tudo isto tem de ser muito bem explicado aos portugueses.

     



Não concordo com o lema da manifestação de 15 de Setembro "Que se Lixe a Troika! Queremos as Nossas Vidas!", até porque os “linchados” somos nós, mas compreendo e subscrevo a revolta das pessoas. Contra as alterações ao TSU, contra a redução dos salários, contra a suspensão dos subsídios, contra os sindicatos e contra os partidos.
De facto, quem esteve na rua não foi o povo mais carenciado. Não foi o povo mais necessitado, que sofre em silêncio e em solidão.  Como diz um amigo meu, as revoluções de fim-de-semana acabam na segunda-feira. Esta acabou no domingo.


Aqueles, não muitos, que estiveram frente à Assembleia da República e que agrediram polícias e jornalistas, com garrafas, pedras e bolas de golfe, regozijam-se com o «quanto pior, melhor». E fazem da tragédia alheia uma festa. A democracia não lhes diz nada. Como também não diz nada àqueles que querem dividir os portugueses. Àqueles que sentem o cheiro da oportunidade de instauração de um regime-outro.




No dia seguinte fotografei o Cais das Colunas no Terreiro do Paço. Ali, no meio do nevoeiro, espreitava o fantasma do ditador. Um homem pousava a mão sobre a coluna onde podemos ler Salazar. Na outra mão segurava um rosário. 


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