domingo, 3 de junho de 2012

A Comédia de Costa e o seu Livro dos Pensamentos


Os dias do Senhor João de Deus decorrem sem grandes sobressaltos, divididos entre o seu trabalho no "Paraíso do Gelado", onde, a contento de todos, desempenha as funções de encarregado e de inventor da especialidade da casa, o famoso gelado " Paraíso ", que faz as delícias da clientela, e a sua casa, onde, paralelamente aos trabalhos domésticos, ocupa as suas horas de ócio, quase sempre solitárias, a coleccionar pentelhos femininos, num precioso álbum a que chama Livro dos Pensamentos. As raparigas de origem modesta que constituem o pessoal do estabelecimento, são objecto dos cuidados permanentes do responsável, zeloso pelo cumprimento de regras básicas de higiene que não façam perigar a saúde pública. Satisfeita com o curso do negócio, Judite, a patroa, sonha fundi-lo com uma empresa francesa e conta com os préstimos de João de Deus para impressionar favoravelmente um famoso geladeiro francês, vindo expressamente de Paris para provar a especialidade da casa. Entretanto, o comportamento de João de Deus - até aí sem falhas - começa a apresentar sintomas de desvios algo inquietantes. Que o digam a senhora Arquitecta, Rosarinho, Virgínia…




Isto é a Sinopse do filme A Comédia de Deus, 1995 de João César Monteiro, uma parte foi filmada na Piscina Municipal do Areeiro. O estado de degradação em que se encontra é inexplicável. È um desperdício de infra-estruturas desportivas fundamentais para a ocupação dos tempos livres de jovens e idosos. A responsabilidade desta tragédia tem de ser imputada à autarquia que permite tal situação sem pingo de vergonha. Um pentelho como diria o erudito Eduardo Catroga. Isto só à bengalada...



Inaugurada faz agora 45 anos, mais exactamente a 16 de Abril de 1966, pelo Chefe de Estado, almirante Américo Tomás. A sua construção demorou dois anos e custou 10 mil contos (50 mil euros). Era uma piscina olímpica - 25x12,5 -, com uma lotação de 250 a 300 pessoas que pagavam 9 escudos no Inverno e 8 no Verão.


Dispunha de dois balneários, um para senhoras, no primeiro andar, com 24 cabinas e 196 cabides, além de 8 secadores eléctricos de cabelo que poderiam ser utilizados sem qualquer aumento de taxa, e outro para homens, com a mesma lotação no piso térreo.


No subsolo, estava instalado todo o vasto e complexo conjunto electrónico, cujo órgão principal era um quadro-computador, através do qual era possível orientar o funcionamento das diferentes peças da engrenagem da piscina. "Diário Popular", Abril de 1966.





LisboaSOS, 2 de Junho de 2012



Foi aqui que Paulo Frischknecht e Rui Abreu, históricos da natação portuguesa, ganharam as primeiras medalhas com braçadas de glória. Foi aqui, nesta piscina, que aprendi a nadar, no ano de 1972, nesse ano tinha estreado a Escola António Arroio no Alto do Pina, às quintas-feiras tínhamos natação na Piscina do Areeiro, por isso devem imaginar o que senti quando aqui entrei para me inteirar do que está há muito tempo denunciado na Internet. Entretanto a edilidade faz orelhas moucas. Os autarcas que nos querem aumentar o IMI são os mesmos que não vêm o estado do nosso património. A piscina do Areeiro, em plena Avenida de Roma, está completamente abandonada e vandalizada, constituindo um desperdício dos bens públicos, um desrespeito inadmissível da autarquia pelos munícipes.



Grime ou Crime




As fotografias e o vídeo mostram o estado atual da piscina. A Câmara de Lisboa diz que vai assinar um contrato de concessão do espaço a uma empresa espanhola, que vai reabilitar a piscina. Um discurso sempre adiado. Até lá, além do lixo, o perigo espreita. Actualmente o local serve para um pouco de tudo, desde pista de skate, a consumo de drogas e a dormitório de sem-abrigos.

















A Piscina do Areeiro, também conhecida como Piscina Municipal do Areeiro, é uma piscina municipal de Lisboa, situada na Avenida de Roma e integrada no Bairro de Alvalade. Foi a primeira piscina coberta mandada construir pelo município lisboeta, sendo considerada por alguns como uma obra emblemática da arquitectura moderna portuguesa dos anos 60. O edifício está catalogado no Inventário Municipal do Património de Lisboa, e faz parte do património da freguesia de São João de Deus. Foi uma piscina dotada de infraestruturas de apoio a deficientes.




Tem 25 metros de comprimento e seis pistas. Dispõe de bancadas na ala esquerda longitudinal da piscina, com capacidade para mais de 300 pessoas. Durante décadas, foi a única piscina permanentemente coberta e com bancadas para o público em Portugal, apta para competições de toda a ordem, passando por festivais, campeonatos regionais, nacionais e até competições internacionais. Durante perto de 30 anos, várias gerações de nadadores foram ali consagrados campeões, alguns tendo até no seu currículo, participações olímpicas, constituindo um símbolo desportivo tão importante como é o Estádio Nacional para o atletismo e para o futebol. Foi usada em 1994 como cenário do filme A Comédia de Deus, de João César Monteiro, para a filmagem de uma prova de natação de 50 metros livres.



















Learning To Swim decorreu de 24 a 30 de Junho de 2010 na, agora desactivada, Piscina Municipal do Areeiro.


Desde 2006 que a piscina se encontra desactivada, encontrando-se actualmente em avançado estado de degradação e ameaçada de demolição total. A piscina deixou de ter água, e está recheada de grafittis e sem paredes e janelas que a protejam dos elementos. Por esse motivo foi utilizada para um espectáculo de teatro intitulado "Learning to Swim", da responsabilidade do Teatro Maria Matos, que estreou a 24 de Junho de 2010. O cenário foi sugerido pelo director artístico do Maria Matos, Mark Deputter. Segundo Paula Diogo, co-autora da peça e uma das suas intérpretes, o espaço foi escolhido por ser “a metáfora perfeita para a ideia de falha que está subjacente ao facto de não se saber nadar, porque é um espaço que perdeu a sua função original”.


Em 2006, quando a autarquia anunciou o abate desta e mais duas piscinas municipais (Olivais e Campo Grande), várias vozes levantaram-se contra essa decisão, entre as quais Helena Roseta, à época presidente da Ordem dos Arquitectos, que escreveu ao então presidente da câmara, Carmona Rodrigues, alertando para a importância destas obras arquitectónicas. Segundo Helena Roseta esta piscina insere-se num contexto de piscinas de "referência para os arquitectos e para as populações", como a do Campo Grande, de Francisco Keil do Amaral e a dos Olivais, de Aníbal Barros da Fonseca e Eduardo Paiva Lopes. Segundo a mesma arquitecta, todas estas piscinas "foram executadas com um cuidado extremo, quanto à funcionalidade, à articulação com as artes plásticas e à pormenorização construtiva que revelam a destreza e inteligência da arquitectura produzida no país durante a década de 60." Helena Roseta, que actualmente (2011) serve como vereadora por Lisboa, deixou de criticar a demolição, dadas as condições financeiras do município.


Em 2008 os vereadores eleitos pelo movimento Cidadãos por Lisboa (CPL) pediram que esta piscina, assim como a dos Olivais e Campo Grande, fizesse parte do inventário municipal do património para posterior reabilitação, respeitando os projectos originais.

[Pois...pois...]


Os vereadores destacaram que esta e as outras piscinas são «obras de consagrados arquitectos do século XX», nomeadamente Alberto José Pessoa (Areeiro), Francisco Keil do Amaral (Campo Grande), e Aníbal Barros da Fonseca e Eduardo Paiva Lopes (Olivais). Em 2009 o edifício encontrava-se catalogado nesse inventário.



[Blá...blá...blá...]






Fotografia: Carlos Caria, facebook no CidadaniaLX




Aníbal Barros da Fonseca e Eduardo Paiva Lopes (Olivais)



A coragem deles com o nosso dinheiro... Vergonha não lhes falta.

2 comentários:

Daniel disse...

Magnífico cenário de grafiti

Manuel Luis disse...

Longe de pensar que este Pais esta neste estado, parecem imagens de guerra, pensei por momentos que estava em Angola a 30 anos a traz.
Obrigado pela sua sensibilidade e informação.